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Paulinho: uma história de vida digna!

Todas as manhãs, das 9h às 10h30min, cumpro "rigoroso" expediente na mesa número um na cafeteria "Café e Doce", de propriedade do meu querido amigo Ildo, no Calçadão Salvador Isaia. Local de encontro dos amigos. Degustação de café em boa companhia. Rememorar coisas da cidade. Saber das novidades. Relembrar tipos folclóricos da cidade. Semana passada falamos muito no Paulinho, o vendedor de bilhetes, de saudosa memória.

 Convivi no centro da cidade de Santa Maria, por mais de cinquenta anos, com o Paulinho, o meu querido amigo anão bilheteiro, batizado Paulo Neron Rodrigues. Especializado em vender unicamente bilhetes de loteria da Caixa Econômica Federal. Ele me reservava bilhetes sob encomenda, com a centena final do número da casa do meu pai na Rua Silva Jardim, 2431. Anos a fio, comprei bilhetes de final 431.

 Como eu dava aulas no recém-criado Instituto Master que funcionava no Edifício Segala, onde hoje funciona a Rádio Guarathan, encontrava o Paulinho diariamente no então Café Cristal, para um bate-papo, o cafezinho e as fofocas do dia. Seu Bráulio Araujo Souza, funcionário da Livraria do Globo e que seria meu futuro sogro, participava da conversa. Ele era tesoureiro da Escola de Teatro Leopoldo Froes e muito amigo também do Paulinho, que - afinal - era amigo de toda a cidade.

Paulinho era ator amador da Escola de Teatro Leopoldo Froes, criada e dirigida durante toda sua existência pelo teatrólogo e memorialista Edmundo Cardoso, pai do Claudinho Cardoso, figura conhecida e querida de todos nós. Aliás, o Claudinho toda manhã aparece no "Café e Doce" e me faz companhia por alguns instantes. Toma cafezinho comigo. Sempre relembra a morte e o velório do meu pai, que foi enfermeiro dele e do Edmundo durante décadas. E se despede com um afetuoso abraço.

Paulinho atuou em várias peças infantis da escola de teatro, ao lado de dezenas de outros conhecidos, como os amigos Horst Oscar Lippold (Tio Óca, à época presidente da Socepe) e o Raphael Theodorico da Silva (Pinha, falecido em 2015). Assisti a todas as montagens da Leopoldo Froes, especialmente aquelas onde o Paulinho trabalhava (Pluft, o Fantasminha, Maria Minhoca etc...), mas lembro em especial e com muito carinho do sucesso da Dona Patinha Vai Ser Miss.

 Tenho bem vivo o carinho que o Paulinho teve para com o Claudinho logo depois do falecimento da querida professora Edna May Cardoso, sua mãe e a demonstração de viva amizade para com seu velho amigo e diretor Edmundo Cardoso.

Paulinho morava bem perto do calçadão, à Rua Dr. Pantaleão. E nos finais de tarde, depois de esgotada a venda dos bilhetes e vencida honestamente mais uma jornada de trabalho, Paulinho costumava escutar o noticiário, comer um lanche e tomar uma cerveja num pequeno restaurante que então existia ao lado do Mercado Itaimbé, na Venâncio Aires, a caminho de sua casa.

Será que a cidade lembrou de fazer alguma homenagem ao Paulinho? Um nome de sala de alguma escola de arte, um nome de rua, algum prêmio lembrando seu nome, um concurso de teatro infantil com seu nome, quem sabe?

 Ou serei apenas eu - um ultrapassado velho chorão - que lembra dessas coisas nas sombras da nostalgia ?

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